quarta-feira, 24 de agosto de 2011

A porta


  


Um raro dia de calma na Grande São Paulo, Haroldo estava andando pela rua e virando a esquina em direção a seu emprego, ser funcionário-público é sempre benefício quando se quer ter um emprego fixo, no entanto, não poderia deixar de abandonar seus instintos de ex-detetive sempre aguçados a qualquer coisa que acontecia, na sua vizinhança já tinha flagrado dois assaltantes tentando arrombar a casa ao lado e descoberto que sua vizinha era uma serial killer, nada o impressionou até virar a esquina e encontrar a loja de chocolates na qual investigava secretamente durante meses.
  Se um dia Dona Dalma houvesse previsto que chocolate seria seu fardo para o resto da vida nunca teria atendido um moço que veio ao seu encontro para ler suas mãos, também não teria aceitado o bombom que ele havia lhe dado como parte do serviço feito, aquele Francisco... garoto inteligente, porém não controlava suas emoções, identificou com destreza que tal moço lhe causaria problemas e iria condená-la para sempre. 
   Depois de entrar na loja de chocolates com sua mãe, sentou-se e pediu o de sempre: capuccino com chantilly e esperou calmamente enquanto observava o movimento da loja, subitamente viu que ao encontro de seu olhar estava aquela maldita vidente que um dia teria lido suas mãos. Dona Dalma olhava Francisco com calma, ao perceber sua reação o moço tentou ir embora arrastando sua mãe para o mais longe possível, de súbito ela saiu correndo e agarrou os braços do menino e perguntou: O que você fez comigo? Não consigo parar de comer chocolate, que tipo de macumba nova é essa garotinho?
  Francisco, aterrorizado com o fato de alguém poder descobrir sua invenção, puxou Dona Dalma para o cantinho e lhe entregou um cartão com seu número de telefone, e falou para encontrá-lo ao cair do sol perto da loja de doces.
   Estranhando a movimentação na loja de doces, Haroldo entrou para investigar e se encontrou com a compradora fiel que estava espionando havia meses: Dona Dalma estava atracada com um menino estranho, no máximo 16 anos, alto magro com um rosto fino e meio abatido, eles se olhavam ameaçadoramente. O homem percebeu a hora em que Francisco passou o bilhete para a adivinha.
  Para não desfazer seu disfarce, o ex-detetive entrou na loja e sentou-se ao lado do menino que havia voltado ao seu lugar e ficou vendo a velhota se afastar com as sacolas de chocolates em mão, ao ver que a mulher havia tomado uma distância segura comentou com a funcionária que acabava de lhe entregar um café: Estranho não? Essa senhora vem aqui toda semana e sai com caixas de chocolate na mão... Ou tem algo de viciante nesses chocolates ou ela é “chocólatra”. Franciso fingindo que não havia ouvido o comentário mal pontuado do curioso cliente,  saiu da loja com sua mãe.
   Sem mais delongas Haroldo se pôs a pensar no que envolvia duas estranhas figuras tão distintas, olhou para o chão pensativamente e achou um bilhete no qual Francisco havia entregado para Dona Dalma e esta provavelmente teria deixado cair, pegou-o discretamente e guardou no bolso de seu paletó, pagou a conta e foi embora para seu trabalho.
   Haroldo pegava o telefone discava o número, o menino atendia, e ele desligava, foram várias tentativas frustradas de pensar o que falar para Francisco, então resolveu ir ao endereço no qual estava escrito no papel e ver discretamente o encontro da velhota com o garoto.
   Dada a hora lá vai a vidente para frente da loja esperar aquele estranho cliente que a havia feito viciar em chocolates, com tantas perguntas a ser respondidas Dona Dalma não poderia deixar de ficar nervosa quando das sombras de uma esquina sai o moço:      

   Francisco, com um meio sorriso do rosto e indicando com as mão para ela o seguir, logo atrás chega Haroldo, escondido atrás de uma parede ele vê a cena e espera que a vidente vire, para segui-los com o máximo de descrição possível.
 Francisco conduziu Dona Dalma para uma porta perto ao lado do beco que havia do lado da loja de doces, lá ele abriu a porta e os dois entraram, Haroldo ficou para trás e esperou até que os dois voltassem, depois de mais ou menos três horas de guarda, Dona Dalma saiu daquela porta como se acabasse de ter avistado o paraíso.
  O ex-detetive se escondeu rapidamente no escuro e passou despercebido da vidente, depois de ganhar vários metros de distância a vidente parou como se percebesse sua presença virou a cabeça e continuou a andar, com o desaparecimento do vulto da senhora, Haroldo começou a se perguntar o que havia realmente acontecido atrás daquela porta, depois de minutos de reflexão resolveu entrar e ver o que acontecia de trás dela.
   Com o coração descompassado de tanta adrenalina – a qual não sentia há tempos - abriu a porta e pareceu acordar de um sonho, abriu os olhos de repente e se viu deitado no meio da rua em frente a misteriosa loja de doces com Francisco e Dona Dalma olhando desesperadamente para ele, havia acontecido um atropelamento, e a vítima era ele os dois se olhavam aterrorizados, Francisco colocou as mãos em seu bolso e de lá puxou um cartão, o colocou dentro do paletó de Haroldo virou-se e foi embora, com a chegada dos bombeiros Dona Dalma se retirou com um olhar furtivo e a saiu andando em direção ao beco.
   Um dia desses o aspirante a detetive receberia em sua casa uma caixa de bombons com o remetente chamado Francisco, e depois disso nunca deixaria de comer os chocolates que eram mandados sempre, por uma pessoa que ele não conhecia ... a porta seria sempre um mistério para ele, depois de seu acidente foi ao mesmo lugar e não encontrou nada, somente esqueceu de ir na hora certa . 

Texto e postagem: Laís

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